Ulisses Lins de Albuquerque nasceu no Sítio Pantaleão, próximo do distrito de Albuquerque-Né, Município de Sertânia-PE no dia 9 de maio de 1889, tendo passado a sua infância entre a fazenda natal e mais tarde a Fazenda Conceição e a sede do município onde passou a estudar, desenvolveu paralelamente a carreira de coletor e fiscal de arrecadação de impostos do Estado e da União, a sua trajetória de escritor, quer como memorialista, quer como poeta, cuja obra, levou-lhe a ocupar a cadeira nº 01 da APL - Academia Pernambucana de Letras. filho de Manuel Coelho Lins de Albuquerque e de Teresa Lins de Siqueira.

Funcionário público, bacharelou-se em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito de Recife em 1927. Foi coletor estadual e agente fiscal do Imposto de Consumo em Pernambuco e, transferido para São Paulo em 1938, aposentou-se em 1940. Além de ter exercido estas atividades, atuou na indústria agropecuária e praticou a advocacia até 1945.

No pleito de dezembro desse ano elegeu-se deputado por Pernambuco à Assembléia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Social Democrático (PSD), assumindo sua cadeira em fevereiro de 1946. Preocupado com o andamento das obras realizadas pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), destacou-se na defesa da construção da usina hidrelétrica de Paulo Afonso.

Após a promulgação da nova Carta (18/9/1946), passou a exercer o mandato na legislatura ordinária, tornando-se membro da Comissão de Transportes e Comunicações da Câmara. Reelegeu-se deputado federal nos pleitos de outubro de 1950 e de 1954 e, ao final do último mandato, em janeiro de 1959, deixou a Câmara, não voltando a exercer cargos públicos eletivos.

Foi membro da Academia Pernambucana de Letras e seu representante na federação das Academias do Brasil, sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e membro do Instituto Genealógico de Pernambuco.

Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de dezembro de 1979.

Foi casado com Rosa Bezerra Lins de Albuquerque, com quem teve nove filhos, entre os quais Etelvino Lins, que foi interventor em Pernambuco em 1945, constituinte em 1946, senador de 1946 a 1952, governador de Pernambuco de 1952 a 1955, ministro do Tribunal de Contas da União de 1955 a 1959 e de 1963 a 1969, e deputado federal de 1959 a 1963 e de 1971 a 1975.

Foi um homem das letras , que sempre teve o Sertão e o sertanejo como foco de sua literatura. Tanto é que no seu discurso de posse na APL, intitulado "Exaltação a Poesia Sertaneja", ele afirma que chega aquela casa como um representante dos anônimos cantadores repentistas, vaqueiros aboiadores, dos poetas populares do Sertão. Esta defesa, feita ainda na década de 1930, o coloca como um dos precursores em chamar a atenção do mundo acadêmico e da sociedade (ação feita anteriormente pelo grande Luiz da Câmara Cascudo), mais de dez anos antes de Ariano Suassuna e Rogaciano Leite realizarem o célebre Congresso de Cantadores do Recife, um marco na  luta pelo reconhecimento e valorização da poesia popular nordestina. Personalidades como Menotti Del Picha, Manuel Bandeira, Múcio Leão, Rodrigues de Carvalho, entre outros destacaram a força de sua poesia.  Foi membro da Federação das Academias de Letras do Brasil, representando Pernambuco , do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e do Instituto Arqueológico de São Paulo-SP.

Publicou Pedúnculos (1916), Ao sol do sertão (poesia, 1922), Mestres e discípulos (1927), De joelhos (com o pseudônimo de Bilac Sobrinho, 1930), Livro de Inach (1933), Um sertanejo e o sertão (memórias, 1957, 2ª ed., 1976), Chico Dandim (romance, 1974), O boi de ouro e outras histórias (1975), Fogo e cinza, Sertão mártir, Hino à gleba, Alma da terra, Estrada de espinho, Moxotó brabo, Sol poente e Três ribeiras.


O Inverno
(Ulysses Lins)

Quando às chuvas mensageiras
de um inverno promissor
Veste-se o parado de verde
O Sertão rebenta em flor

O sertanejo cantando
Esquece as dores passadas
Sentindo o cheiro da terra
E as primeiras trovoadas

Ah! Como é grato então ver-se
Transfigurado o Sertão
Todo campo festejando
A sua ressurreição

Corre o gado pela várzea
Muge o touro em desafio
E as águas descem cantando
No fundo leito do rio

Nas lagoas transbordantes
Piam marrecos boiando
Na queimada esturra a ema
E os socós passam grasnando

Lindas aves multicores
Na mais doce orquestração
 Soltam trinados em festa
E é todo encanto o Sertão

É o inverno alvissareiro
Que retorna a minha terra
Trazendo alegria aos lares
A cantar do vale a Serra

Quanta poesia se espalha
No seio da natureza
Nas almas boas e simples
Quanto amor, quanta pureza!

Foi-se a desgraça impiedosa
A tristeza se acabou
Até que enfim no infortúnio
Do Sertão Deus se lembrou

Hoje nas casas humildes
Do sertanejo inocente
HÁ festas, riso e cores
Ao som da viola gemente!